PAI & PÃO
PAI & PÃO.
João J. C. Sampaio
Admiro e invejo os poetas que sabem traduzir suas emoções com muita clareza e com poucas palavras. Ao contrário, sou como pessoas que carregam o mal da insônia, que passam horas contando carneirinhos ou se debatem a noite toda sem poder pregar os olhos. É assim que estou me sentindo na busca de palavras que expressem com justiça e carinho uma homenagem especial aos nossos pais. Acrescentemos ainda os cuidados para não cair no lugar comum onde as palavras esgarçadas perdem a força e não há remendo que recomponha a originalidade.
Nada mais salutar, nestes momentos de aridez, que recorrer à fonte da sabedoria e da vida: as Escritas Sagradas, ao pão substancioso dos terráqueos famintos de realização. Assim, nestes dias tão conflituosos e insanos, podemos observar uma impressionante semelhança entre os nossos pais e o profeta Elias que, desesperado, fugia de uma perseguição e não tinha perspectiva de saída. A sua situação era tão angustiante que chegou ao extremo de desejar a própria morte (1 Rs. 19, 4)!
No exemplo do profeta Elias, queremos avaliar as incertezas que os nossos pais encontram na atualidade, principalmente no processo educativo de seus filhos. Constatamos, com frequência, que junto à sua palavra amiga, orientadora, incentivadora encontram-se também as palavras dos "sacerdotes de Baal" (1 Rs. 18) que apregoam uma vida de facilidades, futilidades, drogas mil, mentiras que são reconhecidas só depois que já efetuaram estragos arrasadores, até irreversíveis.
Elias enfrentou esse tipo de gente e por isso passou por tanto sofrimento. Realmente, o ato de educar, de construir um mundo mais humano esbarra em muitos empecilhos. Se não estivermos atentos, as palavras de vida de nossos pais poderão ser encobertas ou menosprezadas pelos novos encantadores de pessoas que infestam as telinhas coloridas ou as revistas caras com fotos de gente bonita, aparentemente feliz.
A missão de nossos pais é sublime, mas é também marcada por incertezas e vicissitudes. Eles nos amam e nos querem ver felizes, mas sabem que não podem nos colocar em redomas, vivendo à margem de tudo e de todos. Isso causaria a nossa morte, como o fogo que se apaga com a falta de oxigênio. Eles estão cientes de que não basta proteger, é preciso preparar os seus filhos para que vivam de modo honesto e dignamente, para que assumam com coragem as situações adversas, conflitantes, contraditórias e sejam valorosos agentes de transformação.
Como o profeta Elias, os nossos pais poderão ter os seus momentos de incertezas, mas não de desistência. O profeta, em sua angústia, encontrou debaixo das cinzas o pão que matou a sua fome e o fez caminhar até o monte de Deus. Hoje, os nossos pais podem contar com o substancioso "Pão da Vida" (Jo. 6, 45-50) que nutre a esperança e os encaminha para o definitivo. O apóstolo Paulo, no constante desejo de ajudar, apresenta a nossos pais e a nós como deve ser o nosso proceder para suplantarmos as adversidades. Assim nos aconselha: "Sede bons uns para com os outros... Sede imitadores de Deus... Vivei no amor como Cristo nos amou...." (Ef. 5, 1-2).
A imagem de pai também lembra a de pão. Pão, que vai muito além do significado de fartura. Na mesa da vida o pão nutritivo se encontra na educação, no carinho, na oração, no diálogo, na compaixão, na dedicação, no respeito, na doação da vida em favor dos filhos. Os que assim se entregam, nada têm a temer, pois "o anjo do Senhor vem acampar ao seu redor..." e felizes os pais que "colocam no Senhor o seu refúgio" (Sl.34/33). Esses, jamais deixarão de distribuir aos seus o pão em abundância!
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