O CLUBE DOS PILATOS
O Clube dos Pilatos.
João J. C. Sampaio
É comum ouvir que Pilatos entrou por um descuido no Credo, na profissão de fé dos cristãos. Evidentemente, há na afirmação um contexto histórico que não se deve menosprezar, mas não podemos admitir que aí permaneceu para que nele também acreditemos. Ele surgiu no texto como o governador romano que, covardemente, entregou Jesus para ser crucificado para não ser incomodado pelos chefes religiosos e enfurecidos de Jerusalém.
É triste, porém, constatar que após mais de dois mil anos de Cristianismo, o poderoso clube dos Pilatos continue a ter constantes adesões. É um clube por demais requisitado, cujos sócios, logo no átrio da pomposa sede, costumam lavar as mãos. Como não podem deixar de cumprimentar os pobres, principalmente em épocas eleitoreiras, acreditam que se contaminam com os miseráveis do mundo. Assim, realizam amiúde os seus rituais de purificação... São pessoas com mania de grandeza e de falsa pureza, que gostam de aparecer em público, adoram ser bajuladas e enaltecidas como benfazejas. Na realidade, são mestras da insensibilidade, da violência, da ganância, das tramoias, da mentira, da condenação do fraco e do inocente. São verdadeiras raposas, na linguagem dura de Jesus, ao se referir sobre o esperto Herodes, o colega contemporâneo de trono de Pôncio Pilatos, na Judéia.
Essas raposas também costumam ser religiosas. Vão ao templo, debulham-se em orações e lágrimas, entoam hinos de louvor, são até consideradas justas. Fazem da religião, sem nenhum drama de consciência, um trampolim para as suas conquistas. Porém, jamais se comprometem. Detestam assumir tarefas. São partidárias do “dolce fà niente” e do “deixe estar pra ver como é que fica”. Como dissimuladas, fazem absoluta questão de aparentar serem as únicas a fazer alguma coisa... São zelosas do que acreditam, mas acreditam somente no que lhes convém. Vivem a situação cômoda dos conservadores privilegiados.
É nesse clube que, com o hábito de lavar das mãos, condenam o inocente, multiplicam os pobres e excluem multidões do direito à vida. Os Pilatos de hoje são muito parecidos com o Pilatos do Credo. O daquele tempo, não querendo se indispor com as autoridades judaicas, não levou em conta a condenação à morte do justo Jesus! Atualmente, na pessoa do mesmo Cristo sofredor, multidões de irmãos padecem de fome, de frio, de desprezo e de abandono em uma sociedade cada vez mais individualista e “pilatizada”. Enquanto as mãos são lavadas, a injustiça se aprofunda e alastra as suas raízes em nosso chão já pouco produtivo de boas obras.
É triste descobrir que seguidores do Mestre Jesus também se tornaram partidários de Pilatos... Esse é um dos dramas de muitos de nós que fazemos questão absoluta de sermos reconhecidos como cristãos, mas incapazes de erradicar o Pilatos que teima em fazer parte de nossas ações vazias de compromissos.
Podemos até entender porque Pilatos entrou no Credo dos cristãos, mas é muito estranho que ele esteja tão vivo e presente em nosso meio.
Chega de lavar as mãos diante do injustiçado. Elas foram feitas para o abraço fraterno e o acolhimento caloroso!
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