BATISMO DE AÇÃO
Batismo de Ação
João J. C. Sampaio
É comum a afirmação de que a vida começa aos quarenta. Os mais brincalhões dizem que nessa idade se iniciam, realmente, os problemas... São as dores por todo o corpo, as dificuldades para arrumar emprego, os frequentes pensamentos sobre a morte e coisas desse quilate! O nosso País exige que o seu presidente e os seus senadores tenham idade superior a trinta e cinco anos para exercerem os seus mandatos representativos, supondo que a idade mais adulta seja também a do juízo, de gente que sabe o que fazer com a vida. Os profetas bíblicos para terem crédito em seus anúncios e denúncias deveriam ter, no mínimo trinta anos. Jesus, ao iniciar a sua vida pública com as pregações e ensinamentos contava, segundo o evangelista Lucas, com "mais ou menos trinta anos" (Lc. 3, 23).
O que sabemos é que Jesus, quando completou a idade prevista em lei, apresentou-se a João, às margens do rio Jordão para ser batizado por ele, dando início declarado à sua missão redentora. Diante do constrangido batizador e do povo presente, mais uma vez manifestou-se o Espírito de Deus. Antes fecundara o útero de Maria gerando o Filho de Deus, agora O apresenta a seu povo, de modo oficial, ao sair das águas. Se nos inícios dos tempos "o Espírito pairava sobre as águas" (Gn. 1, 2) prenunciando a criação, chegara a hora de anunciar a Nova Humanidade saindo das águas com a pessoa de Jesus (Mc. 1, 8-11). É fundamental registrar, outra vez, o Messias sendo apresentado longe do centro religioso, dos palácios reais e das instâncias consagradas ao poder. A unção de Jesus teve endereço inequívoco: o povo desprestigiado. O evangelista Marcos, colocou Jesus iniciando o seu ministério lá pelas bandas da Galileia, onde habitavam as pessoas comumente mais desprezadas (Mc. 1, 14).
Ao celebrarmos o Batismo de Jesus, na verdade celebramos e renovamos o nosso. Ele nos liga na mesma função de servos e eleitos, com a obrigação de abrir os olhos dos cegos, libertar os cativos de tantas formas de prisão, promover a justiça e ser luz (Is. 42, 6-7). Com o apóstolo Pedro que testemunhou os passos do Mestre depois que foi batizado, aprendemos que "Ele andou por toda a parte fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio..." (At.10, 38). Com o mesmo apóstolo também descobrimos que Deus não faz distinção de pessoas, nem de nação, pois todos são igualmente convidados a participar da reconstrução de um mundo justo, fraterno e solidário.
A voz vinda do céu apresentando a pessoa de Jesus: "Tu és o meu Filho amado, em ti ponho meu bem-querer" (Mc. 1, 11) também é expressada para todos nós que acolhemos a missão de estabelecer a justiça tão desconsiderada em nosso meio. Hoje, ao que tudo indica, os muitos anos de vida não são garantia de maturidade, pois todos contamos, quando buscamos (Tg. 1, 5-6), com elementos suficientes para poder refletir e discernir qual é a vontade de Deus a nosso respeito. Ser batizado não é questão de idade, mas de atitude de quem sabe o que quer, que não teme envolver-se em um mundo em construção, colocando-se a serviço dos sem esperança e expondo-se, sem restrições, até que a justiça e o direito se estabeleçam no espaço de nossa convivência. Se assim não for, o nosso batismo não passou de um banho qualquer, desses que precisamos tomar todos os dias!
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