BASTA QUE ME TOQUES!


Basta que me toques!

João J. C. Sampaio

No dia de uma das posses do presidente Lula, nós assistimos a uma cena inimaginável. Uma senhora decidida conseguiu furar o bloqueio dos soldados enfileirados, dos seguranças atentos e pediu ao presidente para ser fotografada ao seu lado. O seu desejo foi realizado diante dos seguranças atônitos e das autoridades risonhas. Se ela pensasse ser essa uma missão impossível, estaria até hoje lamentando a chance perdida e a sua falta de ousadia. Era aquele o momento ou nunca mais.

Fato como esse foi corriqueiro no tempo de Jesus. Muitos quiseram chegar até Ele, conversar com Ele, tocar o seu corpo, as suas vestes, mas as multidões que O acompanhavam dificultavam a aproximação. Imaginemos certos momentos de verdadeiro tumulto em volta do Mestre, na ânsia de uma cura ou de uma palavra que saísse de sua boca. Mas, muitos chegaram até Ele e os Evangelhos nos atestam alguns exemplos expressivos. Lembram-se do baixinho Zaqueu (Lc. 19, 1-10), do medroso Nicodemos (Jó 3, 1-2), da decidida mulher cananeia (Mt. 15, 21-28)?

Hoje direcionamos o olhar para um leproso, sujeito considerado amaldiçoado, infeliz, pecador, proibido de conviver no seu meio social, desprezado pela gravidade de sua doença, mas que não suportando mais o sofrimento e acreditando que Jesus seria a sua única salvação, arriscou a vida para implorar Dele a sua cura. Imaginemos o espanto e o nojo sentidos pelas pessoas presentes diante de um marginalizado pela legislação mosaica que ousava pisar o mesmo chão e respirar o mesmo ar (Lv. 13, 44-46). Poderia ter sido apedrejado antes que gritasse por socorro. Jesus, ao contrário de todos, movido de compaixão tocou o seu corpo desfigurado, purulento, fétido e o curou (Mc. 1, 40-42)! Assim o impossível aconteceu: a insensível lei foi desrespeitada pelo leproso e desmascarada por Jesus, provando que a fé do primeiro e a misericórdia do segundo tudo superam e não conhecem limites!

É confortador apreciar esses gestos profundamente humanos de Jesus e, ao mesmo tempo, entristecer com a nossa contradição em admitir a exclusão de tantos leprosos de nosso tempo. Entendamos por lepra não a doença, hoje curável, mas os preconceitos de todo o tipo, a miséria com tudo o que ela produz, as dificuldades de acesso à educação, os salários de fome, a cadeia só para os pobres, o desemprego generalizado ou os subempregos, a mortalidade infantil e outras tantas desgraças que devem nos corar de vergonha. Os que assim tentam sobreviver são irmãos nossos. Eles também se encontram desfigurados e suspiram pela nossa atenção, por uma palavra amiga, um gesto de solidariedade, de apoio, um toque de nossas mãos. Os nossos toques também operam milagres na vida das pessoas!

A nossa sociedade poderia ser bem melhor se decidisse, como Jesus, tocar as pessoas. Quando tocamos, começamos a quebrar as estruturas injustas que fazem o nosso planeta parecer o portal do inferno. No toque amoroso, não só curamos as feridas que estão deformando o corpo, mas estamos restituindo a tantos a alegria de um verdadeiro convívio humano, de resgate da dignidade e da badalada cidadania. É resgate total e irrestrito como
fez Jesus!

Assim como imploramos e recebemos o amparo das mãos de Deus, muitos esperam de nós o mesmo gesto carinhoso.

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