OUSADIA: REFAZER O COTIDIANO!
João J. C. Sampaio
Estamos assistindo, assustados, a violência tomando conta de nossas vidas. São os assaltos já corriqueiros das ruas, as invasões domiciliares, os telefonemas dos presídios, os sequestros relâmpagos ou intermináveis, os roubos aos bancos e caixas eletrônicos, as apropriações vergonhosas dos colarinhos brancos que não sabem onde enfiar tanto dinheiro com cheiro de suor e sangue dos trabalhadores deste País e outras tantas tristes surpresas.
As tragédias do cotidiano também nos tornam violentos porque imaginamos que os outros estão de olho em nós ou parecem ter a nosso respeito segundas intenções. O outro não é nosso amigo, é perigo que nos ronda. A clausura de algumas ordens religiosas passou a ser a nossa: já não saímos de casa, engolimos mais medo com a mídia ávida de notícias impactantes, nos afundamos em relacionamentos virtuais que camuflam inseguranças e buscamos os condomínios que mais parecem cofres fortes inabaláveis. Além disso, costumamos agir, como animais encurralados, no que mais nos convém: discursamos indignados contra Deus e todo o mundo, nos fantasiamos de bonzinhos, acusamos os outros de incompetência, apontamos o dedo com arrogância e botamos a boca nas autoridades, na polícia, nas lideranças religiosas, nos habitantes da periferia, enfim, concluímos: “ninguém faz nada” para sanar a periclitante situação!
Constatar todas essas mazelas é fácil, pois atingem o nosso cotidiano, porém, o difícil é sair das trincheiras que cavamos em nós mesmos, como se fôssemos vítimas, isentos de responsabilidade e nada tivéssemos a ver com tal situação de desconforto. Como sei que estou escrevendo a cristãos e pessoas de boa vontade, ouso afirmar que a tarefa de promover a sociedade a uma condição mais humana e justa precisa começar conosco mesmos. Acredito, piamente, que aquele que aceitou a pessoa de Jesus ou admira os feitos de homens extraordinários, aceitou também o compromisso de transformar este mundo no paraíso que tanto desejamos. Que bom se ousássemos construir uma sociedade sem violência e sem muros!
Como mudar essa situação? Acredito que começando a dizer não a um punhado de vícios de nosso tempo: não ao consumismo inveterado, não ao alcoolismo destruidor de pessoas e famílias, não à preguiça constante, não ao nosso silêncio conveniente diante de injustiças, não aos caprichos nossos e de nossos filhos, não aos programas que só nos animalizam, não ao lixo na rua e ao que trazemos em nós, não à violência no trânsito, não aos políticos desonestos, não aos corruptores, não aos pecados capitais, não às desconfianças, enfim, não à injustiça e ao ódio que vem tornando a vida cada vez mais insuportável.
Não basta, porém, só dizer não. É preciso que o sim também se expresse vigoroso e gere atitudes transformadoras. Que nosso sim seja pronunciado em alto e bom som. Um sim generoso à Palavra de Deus e aos bons exemplos. Um sim corajoso à educação de nossos filhos. Um sim de respeito e de carinho para com nossas escolas, nossos professores e a todos que nos ajudam no crescimento de nossos filhos. Um sim que preferencie o serviço a irmãos que muito esperam de nós. Um sim ao voluntariado. Um sim à honestidade, à justiça e à fraternidade. Um sim sincero, de quem diz que vai e vai! Um sim amoroso que não olha só para si mesmo. Um sim que é capaz de fazer desta terra um espaço celeste!
Enfim, que nossa palavra seja “sim quando for sim e não quando for não” (Mt. 5, 37). A enrolação, a mentira e o “ficar em cima do muro” só nos legam mais tragédias. Agora, se a nossa opção for pela violência, que ela seja contra nós mesmos, para destruir e enterrar de vez o nosso comodismo!
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