SOMOS TODOS IDÓLATRAS!
João J. C. Sampaio.
As raízes mais profundas de nossas desgraças estão bem localizadas no chão fértil da idolatria. Não me refiro à idolatria de fiéis, que na sua simplicidade ou ignorância, expressam gestos de adoração às imagens. Essa forma idolátrica não chega a ser a alienação maior, é apenas o resultado de uma deformada aprendizagem secular reproduzida. As pessoas que dela se apropriam, certamente carecem de um andaime exemplar para alcançarem Aquele que é o Senhor absoluto de nossas existências. O melhor remédio para isso se encontra no Receituário do Evangelho de João quando afirma que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade, sem a necessidade de locais como o templo de Jerusalém ou o monte da Samaria (Jo. 4, 20-24).
Não é dessa forma idolátrica, porém, que vamos refletir. Entremos pelo caminho comum da adoração que prestamos a outros deuses, de modo especial ao deus capital, ao dinheiro nosso de cada dia! As raízes do pecado que geram os desentendimentos, a imoralidade, a exploração, a exclusão e outras tantas desgraças aí se encontram. Pela sede que temos desse deus, acabamos invertendo os valores de nossa crença, desprezando as palavras do Mestre que nos aconselha a "olhar os lírios do campo e as aves do céu..." de quem o Pai cuida com tanto carinho!
A sociedade atual, como nos tempos medievais, continua a levantar os templos nos centros e nas periferias das cidades. Com uma diferença fundamental: naqueles dias, os lugares sagrados eram erguidos para 'a maior honra e glória de Deus' (ad majorem Dei gloriam), enquanto que hoje os templos são construídos para a 'maior honra e glória do capital'! Assim, aí estão os bancos, verdadeiras e imponentes catedrais, com seus inúmeros fiéis cadastrados, que neles entram e saem o tempo todo e ainda reclamam das poucas horas de atendimento! Eles também recebem os nossos dízimos-impostos!
Eis a habitação do nosso deus, do capital financeiro que comanda as nossas vidas e as nossas ações! Tornamo-nos inclusive fanáticos a tal ponto, que o nosso humor se baseia nas oscilações voluntariosas desse deus estranho e loucamente procurado! Por ele os seres humanos se matam e não se reconhecem como irmãos...
Esse deus egoísta que não promove a justiça, costuma inventar formas de esperança para manter o povo oprimido e sofrido na constante expectativa de que um dia poderá fazer parte de sua casa. Em sua pregação promove o Baú da Felicidade, a Mega-sena (mega-sina), as loterias mil, os bingos, as raspadinhas, os bilhetes da federal, da estadual, e outras formas de surrupiar o dinheiro do povo em troca de uma falsa segurança... Como qualquer outra instituição religiosa, o deus capital também age através de seus sacerdotes, pastores e modelos exemplares... Com um deus como esse quem precisaria do diabo!
Vivemos, inclusive, a contradição da nossa prece diária quando pronunciamos "o pão nosso de cada dia nos daí hoje", mas com o olhar ganancioso na sorte grande da loteria ou nos rendimentos da poupança. Não temos que deixar de cuidar do que ganhamos com tanta dificuldade, nem desprezar os bens de que necessitamos. O próprio Jesus nos alertou acerca da prudência e da previdência, de como gerir como servo bom e prudente, os talentos a nós confiados. Cabe-nos, porém, não colocar as riquezas acima do Senhor, nosso Deus e de sua Justiça.
Fundamental é descobrir de que lado estamos e quem é o nosso Deus! A nossa decisão precisa ser como a de Josué e sua família que não abriram mão de servir ao Senhor (Js. 24, 15)./
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