PEDRO E PAULO
João J. C. Sampaio
Jesus, caminhando ao longo do mar da Galileia, viu dois pescadores que lançavam as redes, buscando nas águas o sustento de suas famílias. Eram Simão Pedro e seu irmão André, experientes no ofício de manejar barcos e capturar peixes. A eles Jesus dirige o convite para segui-Lo (Mc. 1, 16-17). Sem nenhum “talvez”, “quem sabe”, “vou pensar” ou exigências de lucros, bom emprego, prêmios, férias, riquezas, poder ou vantagens semelhantes, acompanharam o Mestre até a entrega completa de suas vidas.
Logo após a morte e ressurreição de Jesus quando os primeiros cristãos, corajosamente anunciavam o Cristo vivo, também apareceu um certo Saulo, homem zeloso do Judaísmo que professava, disposto a erradicar de seu meio social, político e religioso o grupo de cristãos que estava subvertendo a ordem estabelecida há tempos. Tudo isso em nome de Deus! E quando cumpria mais uma de suas missões de perseguidor, também topou com Jesus, não à beira mar, mas em plena estrada que o conduzia à Damasco. Foi barrado de forma inesperada e dessa vez não houve convite, mas acusação: “Eu sou Jesus a quem tu persegues!” A capitulação foi incondicional: “Senhor, que queres que eu faça?” (Atos 9. 5-6).
Tanto no convite a Simão Pedro à beira mar, quanto ao tombo de Saulo na estrada de Damasco, as respostas se convergiram a um único interlocutor: JESUS! O Pedro pescador abandonou as redes, o barco e seguiu o Mestre. O Saulo defensor da ordem judaica, deu uma guinada total em sua vida, passou de perseguidor de cristãos a perseguido pelo Judaísmo; de acusador a defensor, de inimigo a amigo fiel, de Saulo a Paulo. Mudou até o nome!
Estamos assim, diante de dois seres humanos especialíssimos, mas tão semelhantes a muitíssimos cristãos que perambulam pelo planeta. O primeiro, Simão Pedro, dotado de ímpetos incontroláveis em certos momentos e covarde em outros, foi capaz de arrepender-se profundamente, até as lágrimas e de dar a vida pelo seu Mestre. O segundo, Saulo/Paulo não usava de meias atitudes nem de meias palavras. Chegava a ser intolerante, arrogante, dono absoluto de seus direitos. Assim é que foi julgado pelo tribunal romano e não pelos costumes judaicos (At. 22, 25-29). Era, de certo modo, um rebelde que não aceitava argumentos frágeis e com toda a convicção colocou a sua vida à disposição da grande obra do Evangelho. Desconhecia limites e não reconhecia o impossível. Falava com autoridade e possuía um fluente linguajar. Era homem de decisões firmes e irrevogáveis. Sabia em quem havia depositado sua esperança.
Nessa fantástica dupla dinâmica Pedro e Paulo, ou nesses esteios da fé as nossas existências também se firmam. Nesses baluartes da Igreja nascente nos miramos e sentimos mais disposição de dar os nossos passos. Se eles, limitados pela condição humana, foram os portadores fiéis da Palavra que liberta e salva, por que nós não fazemos o mesmo? Somos constituídos da mesma carne, recebemos a mesma adoção de filhos, bebemos da mesma fonte vitaminada do Espírito de Deus.
Os tempos podem ser outros, os problemas diferenciados, mas Pedro e Paulo permanecem atualíssimos entre os cristãos. As suas cartas continuam a ser enviadas a todas as comunidades cristãs que lutam com dificuldades contra as injustiças e prepotências desta época. Eles se dirigem a nós e nos alertam para estarmos bem preparados, para podermos responder, com convicção e alegria, a todos aqueles que indagarem a respeito da fé e da esperança que professamos (I Pe.. 3, 15)!
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