SOFRER É PRECISO?



Sofrer é Preciso?

João J. C. Sampaio


Nestes últimos dias, a nossa família experimentou profunda dor com a perda de dois de seus entes queridos. O nosso tio, meu padrinho de Crisma e sua esposa partiram em viagem definitiva, um após o outro, no espaço de sete dias. Isso sem levar em conta que há pouco mais de um ano, uma das filhas do casal também seguiu o rumo da casa de nosso Pai comum. Foram momentos tristes, de grande sofrimento, mas também de manifestação de fé no Senhor morto e Ressuscitado, fé alimentada diariamente, ao longo dos anos de dura labuta roceira. Nada de excepcional, mas de entrega sincera, do jeito que muitos de nós queremos proceder, embora perguntando nestes tempos complicados os porquês de uma vida tão carregada de sofrimentos e misérias. Nós mesmos reconhecemos, em uma oração frequente, que habitamos um vale de lágrimas... O livro de Jó, velho conhecido, tentando nos ajudar, nos encaminha numa difícil reflexão sobre as nossas dores, angústias e incertezas: “...tive por ganho meses de decepção e couberam-me noites de sofrimento... meus dias correm mais rápido que a lançadeira do tear e se consomem sem esperança” (Jó 7, 3-6). O seu lamento não deixa de ser também o nosso.

Apesar de experimentar o sofrimento presente em nossas vidas, não é nada edificante viver lamentando, chorando pelos cantos, maldizendo a Deus e as pessoas, mas promovendo ações que favoreçam uma vida mais digna, alegre e feliz para todos. Para nos encorajar, temos o exemplo da pessoa de Jesus que nunca descansou diante das dores de seu povo. O início do Evangelho de Marcos nos testemunha que Ele não só curou a sogra de Pedro, mas a muitos que se postaram diante da casa dela e, não satisfeito, convidou os seus apóstolos a irem com Ele às aldeias vizinhas (Mc. 1, 30-39).

Certamente, nada podemos diante da morte inevitável, mas há sofrimentos que são causados por nós mesmos e que devem ser evitados, eliminados ou minimizados. Se não concordamos com a exigente proposta de libertação humana de Jesus, cabe-nos pelo menos a obrigação de agir como cidadãos responsáveis, não compactuando com as injustiças, a corrupção, a miséria, a exclusão e todas outras formas de violência, explícitas ou não. Neste espaço de tantos egoísmos e incoerências, é bom lembrarmos que temos uma responsabilidade pessoal e social com a vida abundante. É compromisso ético que não podemos
abrir mão, a não ser que renunciemos a nossa condição de seres humanos.

Jamais seremos capazes de eliminar a morte, mas podemos e devemos eliminar as condições de morte presentes em nosso planeta.

Aos que se consideram seguidores do Mestre e Senhor Jesus, o apóstolo Paulo afirmou que anunciar a Boa-Nova da salvação é mais que uma necessidade, é uma obrigação (1 Cor. 9). As boas notícias, no entanto, devem ser expressadas não só com palavras, mas com ações que conduzam à libertação das misérias que mantém multidões no sofrimento. Anunciar o Evangelho é compromisso dos grandes que exige de nós dedicação sem medida (1 Cor. 9, 22-23). É por isso que o Senhor espera que sejamos na atualidade sinais de seu Reino de amor no meio de seu povo!

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